sábado, 16 de novembro de 2019


Mais uma vez, a educação...
Marcelo Etcheverria.
Mestre em História pela UFRGS.
         Volta e meia este escrevinhador aborda o tema da educação. Seja por ser professor, seja porque a educação sempre é execrada aos quintos do inferno no nosso país. Quando pensava que não iria escrever sobre o tema por um bom tempo, eis que me deparo com o assunto de novo.
            A notícia é da Folha de São Paulo, jornal sério, embora não concorde muitas vezes com a sua linha editorial. Diz a Folha que um dos itens do pacote do ministro Paulo Guedes, aquele que amava o Chile e já não ama mais, quer desobrigar a União, Estados e Municípios do dever de construir escolas e mais, pretende por uma manobra contábil inserir nos gastos com a educação os salários dos professores ativos e inativos. A desculpa é que é para reduzir custos e livrar os governadores da obrigação constitucional de investir 25 % do orçamento em educação. E vai... Vai acabar com a escola pública no Brasil. E os proprietários de escolas privadas que não se assanhem, pois este público não vai migrar para a escola privada. Isso por um simples motivo, o povo não tem dinheiro.
            Mas vamos adiante. O Legislativo nacional acaba de aprovar a nova aposentadoria. Incluiu nela os professores. Que tiveram o seu tempo de serviço aumentado. A desculpa? A de sempre: reduzir gastos. Fico aqui pensando naquela professora do primeiro ao quinto ano. Quem já trabalhou com estas turmas sabe como é. A professora com seus sessenta anos, seus trinta e poucos alunos. Vai ter saúde? Vai ter paciência? Se as professoras novas estão fugindo destas turmas. E olhem que ainda não falei do salário. Mas vou falar...
            Falando em salários, vou pegar como exemplo o meu Estado, o Rio Grande do Sul. Pois aqui os professores estão passando por cinco anos sem aumento salarial. Cinco anos! Vocês entenderam bem. Nem a reposição da inflação. Para dar uma ideia, em 2014 o preço do gás de cozinha era 24,00 reais o botijão de 13 Kg. Hoje está em 90,00 reais o mesmo botijão. E o salário do professor continua o mesmo. Mas pasmem isso não é tudo. Os professores do Estado do Rio Grande do Sul não recebem em dia faz cinco anos. Recebemos parcelado. E o décimo terceiro? Só se fizer empréstimo em banco. E a solução do atual governador Eduardo Leite (PSDB)? Alterar o plano de carreira dos professores! Para melhorar salários? Não! Para reduzir! Parece piada, mas assim o é!
            O liberalismo venceu as eleições no Brasil em 2018. Esse que vos fala se criou ouvindo que os liberais diziam que a obrigação do Estado era investir em saúde, educação e segurança. Os caras se elegeram (Bolsonaro e Leite) e estão acabando com a educação pública, com o SUS e com a segurança. Aqui no Rio Grande do Sul os professores entraram em greve. Greve por todos os motivos listados acima. Penso que a obrigação de todo cidadão é a de apoiar estes professores. Porque do contrário, no futuro, não existirá mais futuro. Somente o caos. O Chile já acordou... Vamos ter que dormir para depois acordar?


quinta-feira, 10 de outubro de 2019


Mais um dia dos professores... Existem razões para comemorar?
Marcelo Etcheverria.
Mestre em História pela UFRGS.
            Mais um dia dos professores se aproxima e nas redes de TV, redes sociais, Facebook surgem fartas matérias e mensagens sobre a importância do professor e de como a profissão deve ser valorizada. Que ser professor é vocação! Confesso que, como professor, estou entediado e que acho estas demonstrações de afeto um tanto vazias. Já me explico.
            Primeiro, uma sociedade que realmente valoriza a profissão de professor não permitiria de maneira alguma que os professores do Estado do Rio Grande do Sul passassem cinco anos sem aumento de salário e nem reposição da inflação. Não toleraria parcelamento de salários dos mestres que cuidam e educam seus filhos cotidianamente. Falo de onde moro e sei da dura realidade dos outros Estados. Um povo que realmente valoriza o educar faria uma Greve Geral exigindo escolas com infraestrutura digna. Afinal, este povo paga impostos de primeiro mundo e recebe escolas de quinta categoria (escolas de lata, escolas sem luz, sem internet, escolas sem segurança). Os professores não tem que fazer greve. A greve tem que partir de fora da escola. Que sonho? Não acham?
            Em segundo lugar, um país que valoriza verdadeiramente a educação e os professores leria mais. Estamos entre os países que menos leem no mundo. Chega a ser engraçado, o pai chega e diz para o professor que o filho não tem o hábito da leitura e que só passa no smartphone. Quando o professor pergunta para o pai qual foi o último livro que ele leu, o pai responde que não lembra ou que não gosta de ler. Como? Faça o que eu digo, não faça o que eu faço? Complicado... E mais ainda, um povo que elege um presidente declaradamente avesso à educação. Um mandatário que tem no exército o paradigma de educação. Exército do qual ele foi expulso, diga-se de passagem. Não deu outra: censura a livros, teatro, filmes, premiações internacionais, corte de verbas em Universidades.
            A verdade e me perdoem o azedume é que grande parte dos brasileiros têm a escola que merecem. E é por isso que nos encontramos no lugar onde estamos e comandados por vocês sabem bem quem. Então comemorar o dia dos professores? Temos é que chorar... Temos que lamentar... E devemos, no mínimo, um pedido de desculpas.




          


segunda-feira, 9 de setembro de 2019


Tempos obscuros...
Marcelo Etcheverria
Mestre em História pela UFRGS.
            Que ano este no qual vivemos! Que tempo! Expressões não faltam para denominar o período mais obscuro da história brasileira. E olha que vivi parte da minha adolescência na época da ditadura Civil – Militar. Por que digo isso? É que quando vivíamos numa ditadura, todos sabiam disto. E os ditadores, todos generais, não tinham vergonha de confirmar. Mas e hoje? O que temos? Como vivemos?
            Normalmente, quando um presidente é eleito, o primeiro ano é de paz e de implementação do projeto do novo líder. Polêmicas vão aparecer, negociações. O normal em uma democracia. Aliás, isso é o que de melhor existe num regime democrata, o negociar. Negociar é acordar! “O melhor acordo é aquele no qual os dois saem perdendo” minha irmã advogada sempre me disse isso. Mas não é o que o novo governo deseja. Acordos parecem ser sinal de fraqueza para o novo chefe da nação. E vemos isso em todos os setores. Ele parece só desejar o conflito. E este colunista se pergunta por quais motivos? E a resposta é só uma. Mas vamos adiante.
            Gays atacados, movimentos sociais, ecologistas, universitários também, armas liberadas e um presidente subserviente aos EUA, bateu continência para a bandeira estadunidense, coisa que nem os atletas daquele país fazem em Olimpíadas. Mas afinal qual é o objetivo de tudo isso? Já antecipo, é desmontar a nação brasileira. E, para sermos justos com o atual mandatário, temos que dizer que isso não começou com ele. O início foi com Michel Temer e até antes, com a tal “Operação Lava Jato”. Não vou entrar aqui nos méritos e deméritos da “Operação Lava Jato”, mas o fato é que ela desmontou a indústria nacional. Odebrecht, OAS e outras empresas sempre foram muito competitivas no mundo corporativo internacional. Para quem não sabe, a Odebrecht financiava a indústria bélica brasileira, por exemplo. E estas empresas foram jogadas no ralo. Anos de pesquisa. E isso que não falei da Embraer. Repararam que são indústrias estratégicas?
            Quer acabar com um país, quer dividir um país, acabe com sua indústria e com sua inteligência. Como destruir a inteligência de um país? Ataque suas universidades. É inegável que nossas universidades, apesar dos problemas, tiveram um grande salto qualitativo nos últimos anos. Muitos jovens tiveram a oportunidade de estudar e trocar ideias no exterior. Jovens pradenses inclusive. Tudo financiado pelo governo federal. E tenho certeza que estes jovens aprenderam muito e trouxeram conhecimento para o nosso país. Fora isso, nossas universidades e cito a UFRGS estão entre as melhores do mundo. E numa crise econômica grave como estamos, onde buscar ajuda? Onde buscar conhecimento? Nas universidades! O que faz nosso mandatário? Vamos acabar com as universidades! Tenho um nome para essa atitude. Não vou dizer por educação, coisa que o tal mandatário não possui.
            O novo governo nos lança num abismo. Lugar de onde talvez nunca mais tenhamos a capacidade de sair. O novo governo ataca a Venezuela e está nos transformando em uma. O novo governo namora com a ditadura, embora tenha sido eleito democraticamente. O que dizer de um governo que, com apenas cinco meses de mandato, precisa de passeata para apoiá-lo? Para isso eu tenho a resposta. Ele acabou. O que virá? Depende da mobilização popular e daqueles que ainda tem um pouco de consciência neste país. Do contrário, tudo é escuridão...