Ensino na pandemia, pandemia no ensino...
Marcelo
Etcheverria.
Mestre
em História pela UFRGS.
A pandemia
causada pelo vírus Covid – 19 transformou e está mudando o mundo. Colocou
contra a parede teorias e projetos de vida. Que o digam os defensores dos projetos
neoliberais. E aqueles apegados ao mundo material e que agora se deparam com a
morte a cada esquina. E ficam pensando no que poderia ter sido se... Mas hoje
vamos falar do ensino. Afinal, ensino também envolve projetos. E projetar é
lançar. E a pandemia nos colocou diante das seguintes perguntas: lançar para
onde? Lançar para quê? É. As escolas foram pegas “de giz na mão”.
No resto do mundo, a data foi
diferente, mas no Brasil, foi num 19 de março de 2020. Nesse dia a “Terra
parou”. Diante da foice da morte, as escolas, as universidades, fecharam as
suas portas. Tudo para evitar o caos. E o caos trazido pela pandemia mostrou a
triste realidade do ensino no Brasil. Nada que já não se soubesse, mas a
verdade é que muitos não acreditavam. As disparidades são enormes no nosso
país. E quais são estas diferenças? Ela envolve o público e o privado. Os que
têm e os que não têm. E essas discrepâncias não estão restritas somente aos
alunos, chegam aos professores também.
Aulas online ou EAD foram as
palavras chave durante a pandemia. Como ensinar a distância? Não vou falar do
ensino privado porque bem ou mal ele está funcionando. Claro que também
enfrenta os seus desafios. Mas estes são de longe mais amenos que os obstáculos
da rede pública. Já na rede pública, os problemas se amontoaram aos milhões. E
falo pelo meu estado, o Rio Grande do Sul. Quais problemas? A miséria de uma
parte da população, a falta de acesso a internet, a falta de computadores e de
smartphones por parte de grande parte dos estudantes gaúchos, a falta de
treinamento por parte dos professores, o completo descolamento dos professores
para com a realidade do mundo virtual (Zoom, Google classroom e outros). Baixar
um arquivo ou fazer uma reunião em grupo no whatsapp viraram tarefas hercúleas.
Numa reportagem da rádio Gaúcha uma professora disse chorando que foi uma aluna
que a ensinou a fazer uma reunião em grupo pelo whatsapp.
Todos estes problemas seriam
amenizados se realmente o Estado (lembro que a população faz parte do Estado) valorizasse
o ensino, a educação. Quando os professores fazem greve por melhores condições
de ensino e de salários, a população não acompanha, pelo contrário, os
educadores são chamados de “vagabundos”, “que tem dois meses de férias”, que “se
não gostam que larguem o emprego”. Essas são as citações mais amenas que
encontrei. O que quero dizer é que a culpa não é somente dos governantes. Nosso
povo também é culpado pela própria ignorância. Afinal, não vivemos numa
ditadura. Esse maluco que nos governa não caiu do céu! Foi eleito!
Escolhas, caro leitor. O mundo é feito delas. O mundo que está aí é frutos dos caminhos escolhidos. Alguns dão no mar, outros terminam em precipícios. Já está mais do que na hora de aprender com isso. Um centro comunitário ou uma escola com tudo que tem de melhor? Internet gratuita no bairro ou festa na praça? Professores qualificados ou asfalto? Aqui lembro da música da banda Titãs : “A gente não quer só comida, quer comida diversão e arte... Bebida é água, comida é pasto. Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?”. E você que me lê, tem fome e sede de quê? Da fome do maldito vírus a gente já sabe. E a tua?